Imagine a cidade italiana de Veneza, com os seus famosos canais e toda aquela envolvência romântica conhecida mundialmente, mas… com uma diferença: amplos espaços em redor da água, palácios, esculturas e monumentos por todo o lado, arquitetura imperial grandiosa, cúpulas em ouro ou em tons de azul, fontanários dourados, palácios de inverno, residências de verão construídas para a realeza dos sécs. XVIII e XIX, 600 pontes sobre o rio, 150 fontes, antigos palácios imperiais verdadeiramente soberbos. Estamos, pois, em S. Petersburgo, no norte da Rússia, não muito distante do círculo polar ártico, capital imperial da Rússia até 1917, com mais de 300 anos de história, rebatizada de “Leningrado” na era soviética, e que transporta até à nossa época um legado histórico, cultural e civilizacional denso, vistoso, riquíssimo. Rumo ao Báltico, o rio Neva desagua em forma de delta, atravessa a cidade abraçando-a ternamente com inúmeros canais. Daí a denominação romântica de “Veneza do Norte” atribuída a S. Petersburgo. O rio Neva confere à cidade um charme formidável, principalmente nas longas noites de verão.
Ainda hoje é considerada por todos como a segunda capital da Rússia, e existe sempre um sentimento de rivalidade latente com Moscovo, visto que, ultrapassada que está a fase soviética, S. Petersburgo mantém a sua figura imperial genuína de sempre, mais coerente com os tempos que correm, mais em consonância com a Rússia, mais aberta ao mundo e mais cosmopolita que hoje conhecemos.
Com tamanho legado histórico, não é de estranhar que o museu Hermitage ostente um acervo também ele monumental: mais de 3 milhões de obras e peças de valor cultural, com exposição permanente em 365 salas, se considerarmos apenas o complexo museológico principal, para além de quase uma dezena de outras dependências, espalhadas pela cidade.
Poderá se pensar que não vai chegar o seu tempo disponível para uma agenda tão vasta. Mas chega. Por altura do solstício do Verão europeu, em Junho, o sol se põe depois das 22 horas e o clarão do crepúsculo dura toda a noite, até ao amanhecer, sem nunca, ao longo de toda a noite, chegar a haver escuridão completa. Este fenômeno é conhecido como o “Sol da Meia-noite” ou, usando a expressão mais precisa: “As Noites Brancas”. Você consegue imaginar um casal passeando o seu cãozinho pelas ruas da cidade, às três e meia da manhã? Bem, pode parece exagero, mas não é. Então você atravessou meio mundo num longo vôo até St. Petersburg – Pulkovo só para… dormir? Pode crer que será bastante difícil dormir com a claridade do céu durante a noite; e não será fácil resistir à diversidade e à animação do programa cultural noturno que aqui existe por altura do solstício de verão. Todos os anos se realizam eventos culturais de arte clássica (ballet, ópera e música) que preenchem a época do solstício, em que acontecem as noites mais claras. Embora tenham inspirado o aparecimento de réplicas por todo o mundo, os festivais culturais das noites brancas são mesmo originários da Veneza do Norte. Se a genda cultural pode ser reproduzida em outras latitudes, o esplendor imperial da cidade e o fenómeno do “sol da meia-noite” são inimitáveis.